Estive a ler o código Mundial de Ética do Turismo e parei no ponto 5: “O Turismo, actividade benéfica para os países e para as comunidades de destino”.
Aqui, na primeira alínea podemos ler: “As populações e comunidades locais devem estar associadas às actividades turísticas e participar equitativamente nos benefícios económicos, sociais e culturais que geram, e sobretudo na criação de empregos directos ou indirectos resultantes.”
Quero então dar o exemplo de Cabo Verde. Como todos nós sabemos, Cabo Verde tem uma grande taxa de pobreza pois esta é uma região de poucos recursos, onde se destacam principalmente a agricultura e a riqueza marinha, sendo a primeira muito prejudicada pelas secas. Cerca de 173.000 residentes vivem com menos de 216.25 euros por ano.
São Vicente é a ilha onde os pobres têm piores condições de habitação, onde cerca de 23% destes moram em barracas. Dos 26.693 agregados familiares pobres da região, apenas 8.550 ou seja 32% têm electricidade. Dos 95257 agregados familiares residentes em Cabo Verde apenas 42670 têm casa de banho. Enquanto isso, ao lado podemos encontrar os turistas instalados em grandes empreendimentos turísticos.
Aproximadamente 1/3 da população activa é pobre. “ 81% dos indivíduos habitualmente empregados e 76% dos indivíduos pobres habitualmente empregados trabalham a tempo completo, pelo que os baixos salários são de facto um fenómeno de massa (...) Aparte do aumento do nível médio dos salários, a política de redução da pobreza deverá passar necessariamente (...) pela promoção do acesso aos pobres à formação e pela promoção do emprego de qualidade”.
Penso que assim já da para terem uma ideia.
O Turismo é muito importante para a economia de Cabo Verde, sendo uma região muito procurada por turistas. Pois então... Onde está o resultado dos benefícios económicos dessa actividade?
O Turismo, no caso de Cabo Verde, ajudou a fomentar algum crescimento de emprego, visto o turismo naquela região ser actualmente uma das maiores fontes de riqueza. Riqueza essa de que a população tem muito pouco benefício. É um pais de dois contrastes: o muito rico – donos de grandes hotéis e empreendimentos turísticos, e o muito pobre – trabalhadores activos e com baixos salários. Onde está então o direito de usufruto desta população dos bens provenientes do turismo? Bens esses que poderiam ser canalizados para melhorar a qualidade de vida da população.
Ana Balancho nº 3981
1 comment:
O turismo, sendo uma actividade que potencialmente é das mais transversais a nível económico e das que conseguirá trazer uma maior e mais rápida multiplicação do dinheiro, encontra nestes resorts a sua antitese natural. Criação de riqueza nula para a comunidade, com excepção dos cargos de baixa responsabilidade nos mesmos e que pagam de uma forma sempre abaixo da média de cada país.
Sediados normalmente, em termos legais, fora do país em que estão implementados, acabam por "pertencer" a um qualquer paraíso fiscal de modo a que, mesmo os impostos devidos ao país representado são minimos.
O que podemos fazer em relação a estas unidades? Enquanto profissionais de turismo, não vejo solução para esta crise de valores, mas enquanto turista, a solução é simples, sempre que viajo para um destes países (infelizmente poucas vezes), procuro ficar num hotel local, inserido bem dentro da comunidade, de modo a poder integrar-me na comunidade local e ficar a conhecer um pouco da sua cultura... e contribuir, ainda que de forma modesta, para o desenvolvimento da região!
Luís Pires (n.º 3644)
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